Tuesday, September 25, 2007

As palavras que o Diário do Alentejo quis calar...

"Neste contexto, ainda achei mais triste a forma como o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu, indirectamente, os “camaradas” Chineses, ao declarar que «não se pode ter relações económicas, políticas e diplomáticas com certos países e depois procurar contrariar essa perspectiva justa do prestígio das instituições com uma visita de circunstância». Então um líder espiritual de um país, um prémio Nobel da paz, é uma visita de circunstância? A justificação é simples, a China é comunista e o PCP continua a tentar disfarçar o seu apoio a estes regimes ditatoriais. Se tal se passasse com os Estados Unidos, por exemplo, alguém tinha dúvidas da posição do PCP? Clarifiquem: ou são a favor ou são contra o que se passa nesses países.
No meu entender o comunismo português continua a tentar viver o passado e a defender políticas e países que de democráticos nada têm, antes pelo contrário. Por muito que custe a alguns admitir, a verdade é que não há memória dum país de inspiração comunista em que se possam elogiar as regras democráticas, o respeito pelos direitos humanos e a liberdade de expressão. Avivemos, um pouco, a memória dos mais distraídos.
Na já extinta União Soviética (berço do comunismo) a revolução Bolchevique, liderada por Vladimir Leninne, pretendeu libertar o povo do jugo dos Czares. Desde o início que os direitos humanos foram literalmente esquecidos. Nem sei se o povo não ficou pior com Lenine do que com o Czar. O seu sucessor, Josej Estaline, também aprendeu rapidamente a reprimir, a reeducar e a fazer desaparecer os cidadãos. Só à sua conta “desapareceram” milhões de cidadãos russos, entre poetas, cientistas, militares de alta patente, gestores de empresas e outros cidadãos que, por esta ou aquela razão, discordavam do regime comunista instituído.
Na China é o que se vê. O Tibete já é deles e ninguém poder dizer o contrário. Os governantes chineses só deixam o poder quando morrem e, neste caso, a sucessão é quase dinástica. Eleições democráticas para quê? E o que dizer das velhas políticas de repressão, do controlo da população e da exploração dos trabalhadores, que são pagos a preços de miséria. Para quem diz que os países comunistas são o paraíso dos trabalhadores, onde andam os sindicatos “livres”, as leis laborais “decentes”, os horários de trabalho, os salários justos, etc? Bom, afinal todos nós gostamos de produtos bem baratos, não é.
Também em Cuba, terra do Fidel Castro, temos outro “eterno” porque, por lá, eleições também são “coisa esquisita”. Quando o “El comandante” se for, o poder passa para o irmão. Muito democrático, sem dúvida. E, claro, quem não anda na “linha” e não venera o ditador tem problemas certos com a polícia política, porque por lá coisas como “direitos humanos”, “liberdade de expressão”, “ordenados justos”, etc, também são expressões que não devem constar do dicionário.
Já a Coreia do Norte, terra do “querido líder” Kim Jong-il, é o último estado “estalinista” do mundo. Segundo as estatísticas, não oficiais (claro) mais de 8 milhões de pessoas, sofrem de subnutrição e não têm acesso aos mais elementares cuidados de saúde. Curiosamente, o estado gasta milhões em armamento. Quanto a direitos humanos, liberdade de expressão, etc, o que é isso?
Também a Venezuela, que parece estar a abraçar o colectivismo e a estatização, já caminha para posturas pouco democráticas. A segunda reforma constitucional que Hugo Chaves quer ver aprovada, já prevê que se acabe com o limite à reeleição presidencial, o que lhe permitirá ficar décadas no poder. Os estudantes já dizem, a medo, que «estão tentando implantar um socialismo autoritário, que tem muito pouco de socialismo e muito de autoritarismo». Isto vai.
Bom, como, felizmente, vivemos num país livre e democrático, que cada um pense o que entender, mas sejamos realistas.
Pires dos Reis"

(Regressar ao Viagra e Prozac)

Sunday, September 23, 2007

Cartas de Mariana Alcoforado

Terá sido então inútil todo o meu desejo, e não voltarei a ver-te no meu quarto com o ardor e arrebatamento que me mostravas? Ai, que ilusão a minha! Demasiado sei eu que todas as emoções, que em mim se apoderavam da cabeça e do coração, eram em ti despertadas unicamente por certos prazeres e, comos eles, depressa se extinguiam. Precisava, nesses deliciosos instantes, chamar a razão em meu auxílio para moderar o funesto excesso da minha felicidade e me levar a pressentir tudo quanto sofro presentemente. Mas de tal modo me entregava a ti, que era impossível pensar no que pudesse vir envenenar a minha alegria e impedir de me abandonar inteiramente às provas ardentes da tua paixão. Ao teu lado era demasiado feliz para poder imaginar que um dia te encontrarias longe de mim. E, contudo, lembro-me de te haver dito algumas vezes que farias de mim uma desgraçada; mas tais temores depressa se desvaneciam, e com alegria tos sacrificava para me entregar ao encanto, e à falsidade!, dos teus juramentos. Sei bem qual é o remédio para o meu mal, e depressa me livraria dele se deixasse de te amar. Ai, mas que remédio... Não; prefiro sofrer ainda mais do que esquecer-te. E depende isso de mim? Não posso censurar-me ter desejado um só instante deixar de te querer. És tu mais digno de piedade do que eu, pois vale mais sofrer corno sofro do que ter os fáceis prazeres que te hão-de dar em França as tuas amantes. Em nada invejo a tua indiferença: fazes-me pena. Desafio-te a que me esqueças completamente. Orgulho-me de te haver posto em estado de já não teres, sem mim, senão prazeres imperfeitos; e sou mais feliz que tu, porque tenho mais em que me ocupar.
Nomearam-me há pouco tempo porteira deste convento. Todos os que falam comigo crêem que estou doida, não sei que lhes respondo, e é preciso que as freiras sejam tão insensatas como eu para me julgarem capaz seja do que for. Ah, como eu invejo a sorte do Manuel e do Francisco! Porque não estou eu sempre ao pé de ti, como eles? Teria ido contigo e servir-te-ia certamente com mais dedicação.

Nada desejo no mundo senão ver-te. Lembra-te ao menos de mim. Bastar-me-ia que me lembrasses, mas eu nem disso tenho a certeza. Quando te via todos os dias não cingia as minhas esperanças à tua lembrança mas tens-me ensinado a submeter-me a tudo quanto te apetece.

Apesar disso, não estou arrependida de te haver adorado. Ainda bem que me seduziste. A crueldade da tua ausência, talvez eterna, em nada diminuiu a exaltação do meu amor Quero que toda a gente o saiba, não faço disso nenhum segredo; estou encantada por ter feito tudo quanto fiz por ti, contra toda a espécie de conveniências. E já que comecei, a minha honra e a minha religião hão-de consistir só em amar-te perdidamente toda a vida.

Não te digo estas coisas para te obrigar a escrever-me. Ah, nada faças contrafeito! De ti só quero o que te vier do coração, e recuso todas as provas de amor que tu próprio te possas dispensar. Com prazer te desculparei, se te for agradável não te dares ao trabalho de me escrever; sinto uma profunda disposição para te perdoar seja o que for.

Um oficial francês, caridosamente, falou-me de ti esta manhã durante mais de três horas. Disse-me que em França fora feita a paz. Se assim é, não poderias vir ver-me e levar-me para França contigo? Mas não o mereço. Faz o que quiseres: o meu amor já não depende da maneira como tu me tratares.

Desde que partiste nunca mais tive saúde, e todo o meu prazer consiste em repetir o teu nome mil vezes ao dia. Algumas freiras, que conhecem o estado deplorável a que me reduziste, falam-me de ti com frequência. Saio o menos possível deste quarto onde vieste tanta vez, e passo o tempo a olhar o teu retrato, que amo mil vezes mais que à minha vida. Sinto prazer em olhá-lo, mas também me faz sofrer, sobretudo quando penso que talvez nunca mais te veja. Por que fatalidade não hei-de voltar a ver-te? Ter-me-ás deixado para sempre? Estou desesperada, a tua pobre Mariana já não pode mais: desfalece ao terminar esta carta. Adeus, adeus, tem pena de mim!

(Regressar ao Viagra e Prozac)