Por este andar, chegaremos ao cúmulo em que metade da população votante deste país se demite do seu único poder, aproximadamente democrático: a ratificação eleitoral do pessoal político escolhido pelas burocracias e lideranças partidárias para governar o país e servir as clientelas partidárias que o tornaram elegível. Metade dos eleitores sem representação política simbólica, pois a representação política não passa disso mesmo, de um floreado doutrinário-constitucional.
A inversão deste cenário de genocídio democrático não será possível sem uma reestruturação coactiva dos partidos políticos, tendo em vista a sua democracia interna, e sem uma pedagogia democrática activa com retaguarda institucional, isto é, inserida no sistema educativo desde o básico.
Mas regressemos à coboiada dos vencedores e derrotados, só para um apontamento. Um dos vencedores indiscutíveis desde embate eleitoral, quase sempre pelas piores razões, foi sem dúvida Paulo Portas, o político mais hábil da actualidade. Paulo Portas tem na ponta da língua a cartilha do mais despudorado populismo, adornado com muitos truques demagógicos e reforçado com uma inteligência táctica e uma sedução discursiva e impressiva, que são desarmantes e eficazmente convincentes junto de dois tipos bem demarcados de eleitorado: os conservadores burgueses, e os populares desprotegidos e revoltados pela incúria e injustiças do “sistema”. Curiosamente, mais do que a esquerda sindical e combativa do PCP, ou a “nova esquerda” fracturante e pós-materialista do BE, foi o CDS-PP de Paulo Portas que melhor soube capitalizar o descontentamento com muitas das políticas neo-liberais e sociais do eng. Sócrates. As primeiras porque favoreceram os mais poderosos de forma escandalosa e obscena. As segundas porque não foram acompanhadas de fiscalização rigorosa, transigindo-se com a fraude.
No distrito de Beja, assinale-se o maior crescimento eleitoral, o do BE, o que poderá baralhar ainda mais as contas para as próximas autárquicas, mas que evidencia uma penetração do Bloco num território onde as clivagens ideológicas clássicas ainda definem a dinâmica eleitoral.
E porque estamos na véspera das autárquicas, mas já com a campanha eleitoral para as mesmas em plena ebulição, só três breves apontamentos sobre a animada campanha eleitoral para o Município bejense.
Comecemos pela candidata Dulce Amaral e a sua lista independente. O “independentismo” é muito nobre e estimável se movido e justificado por razões de alternativa política e programática às propostas fecundadas no seio partidário. Ora o que a senhora Dulce tem vindo a exibir nas suas deliciosas aparições em entrevistas e debates é apenas uma motivação de foro psicanalítico. Pelos vistos, a candidata ficou muito chocada, enquanto militante e autarca eleita pelo Partido Socialista, por ter de obedecer à disciplina ou condicionamento partidário, e vai daí traumatizou e recalcou a coisa. E não é para menos, é certo, pois deve ser uma pessoa muito sensível. Mas para dar conta do seu choque traumático, bastaria um ou dois artigos de opinião num jornal a desancar os malvados dos seus camaradas de emblema; não era necessário toda a trabalheira de formar uma lista. Ao mesmo tempo que nos livrava a todos de ouvi-la a destilar vacuidades, próprias de quem só entrou no jogo para dar cacetada ao seu ex-partido e amansos descarados à CDU, vá-se lá saber porquê…
Depois o candidato do CDS-PP. É um paraquedista com pinta. Não faz a mínima ideia do que seja o Alentejo “real” para lá da boa comida e do bom vinho, mas traz escorreita verve no discurso, agilidade de tribuno, e, mais importante que tudo, já se comprometeu a viver aqui e dar o melhor de si. Creio mesmo que foi o maior feito do mandato de Francisco Santos, ter feito tanta asneira que obrigou à fixação por cá de um dirigente do CDS-PP. E se ele trouxer a família toda, a economia local agradece.
E em que bela forma está Francisco Santos! Irrepreensível na sobranceria e arrogância com que brinda os seus adversários políticos. Este senhor é a antítese do político cordato, dialogante e produtor de consensos. Sempre de semblante carregado e contrariado, podia ao menos compensar a falta de polidez nos modos e a incapacidade de debater com alguma imaginação programática, já que carrega o peso de falhanços e incumprimentos eleitorais. Mas nem isso. Uma miséria.
Daqui a uns dias, importa levar para Câmara de Beja um projecto autárquico sólido e aglutinador de muitas filiações cívicas e políticas, e urge também dar voz na Assembleia Municipal a uma força de esquerda interveniente e protestativa.
A inversão deste cenário de genocídio democrático não será possível sem uma reestruturação coactiva dos partidos políticos, tendo em vista a sua democracia interna, e sem uma pedagogia democrática activa com retaguarda institucional, isto é, inserida no sistema educativo desde o básico.
Mas regressemos à coboiada dos vencedores e derrotados, só para um apontamento. Um dos vencedores indiscutíveis desde embate eleitoral, quase sempre pelas piores razões, foi sem dúvida Paulo Portas, o político mais hábil da actualidade. Paulo Portas tem na ponta da língua a cartilha do mais despudorado populismo, adornado com muitos truques demagógicos e reforçado com uma inteligência táctica e uma sedução discursiva e impressiva, que são desarmantes e eficazmente convincentes junto de dois tipos bem demarcados de eleitorado: os conservadores burgueses, e os populares desprotegidos e revoltados pela incúria e injustiças do “sistema”. Curiosamente, mais do que a esquerda sindical e combativa do PCP, ou a “nova esquerda” fracturante e pós-materialista do BE, foi o CDS-PP de Paulo Portas que melhor soube capitalizar o descontentamento com muitas das políticas neo-liberais e sociais do eng. Sócrates. As primeiras porque favoreceram os mais poderosos de forma escandalosa e obscena. As segundas porque não foram acompanhadas de fiscalização rigorosa, transigindo-se com a fraude.
No distrito de Beja, assinale-se o maior crescimento eleitoral, o do BE, o que poderá baralhar ainda mais as contas para as próximas autárquicas, mas que evidencia uma penetração do Bloco num território onde as clivagens ideológicas clássicas ainda definem a dinâmica eleitoral.
E porque estamos na véspera das autárquicas, mas já com a campanha eleitoral para as mesmas em plena ebulição, só três breves apontamentos sobre a animada campanha eleitoral para o Município bejense.
Comecemos pela candidata Dulce Amaral e a sua lista independente. O “independentismo” é muito nobre e estimável se movido e justificado por razões de alternativa política e programática às propostas fecundadas no seio partidário. Ora o que a senhora Dulce tem vindo a exibir nas suas deliciosas aparições em entrevistas e debates é apenas uma motivação de foro psicanalítico. Pelos vistos, a candidata ficou muito chocada, enquanto militante e autarca eleita pelo Partido Socialista, por ter de obedecer à disciplina ou condicionamento partidário, e vai daí traumatizou e recalcou a coisa. E não é para menos, é certo, pois deve ser uma pessoa muito sensível. Mas para dar conta do seu choque traumático, bastaria um ou dois artigos de opinião num jornal a desancar os malvados dos seus camaradas de emblema; não era necessário toda a trabalheira de formar uma lista. Ao mesmo tempo que nos livrava a todos de ouvi-la a destilar vacuidades, próprias de quem só entrou no jogo para dar cacetada ao seu ex-partido e amansos descarados à CDU, vá-se lá saber porquê…
Depois o candidato do CDS-PP. É um paraquedista com pinta. Não faz a mínima ideia do que seja o Alentejo “real” para lá da boa comida e do bom vinho, mas traz escorreita verve no discurso, agilidade de tribuno, e, mais importante que tudo, já se comprometeu a viver aqui e dar o melhor de si. Creio mesmo que foi o maior feito do mandato de Francisco Santos, ter feito tanta asneira que obrigou à fixação por cá de um dirigente do CDS-PP. E se ele trouxer a família toda, a economia local agradece.
E em que bela forma está Francisco Santos! Irrepreensível na sobranceria e arrogância com que brinda os seus adversários políticos. Este senhor é a antítese do político cordato, dialogante e produtor de consensos. Sempre de semblante carregado e contrariado, podia ao menos compensar a falta de polidez nos modos e a incapacidade de debater com alguma imaginação programática, já que carrega o peso de falhanços e incumprimentos eleitorais. Mas nem isso. Uma miséria.
Daqui a uns dias, importa levar para Câmara de Beja um projecto autárquico sólido e aglutinador de muitas filiações cívicas e políticas, e urge também dar voz na Assembleia Municipal a uma força de esquerda interveniente e protestativa.