As férias são sempre um excelente momento de contemplação, uma oportunidade irrepetível para nos perdermos nas coisas que nos rodeiam: nestes dias olho os céus da minha cidade, pela claridade dos dias quentes de verão, quando a lua imensa traz luz à madrugada e, por mais que queira, tente e sonhe, não consigo ver … aviões.
Se as promessas governamentais fossem algo mais do que palavras vãs, este seria o mês em que o Aeroporto de Beja descolava de um longo projecto, desenhado durante anos num papel, um sonho sucessivamente adiado, não faltando aqueles que, tal como em Alqueva, desejam escrever no chão um “construam-me porra” que abale a consciência pesada de um poder central que insiste em ver o Alentejo como um empecilho nas viagens estivais para o Algarve.
Apesar de uma década de atraso, as obras, cuja necessidade sempre foi duvidosa, continuam num ritmo pacato, sendo que um extremo optimismo pode levar-nos a acreditar que daqui a nove meses se concluirá o parto das obras!
Mas, a mais cruel das perguntas impõe-se: se a metáfora me é permitida, lanço a questão: para que vai servir este bebe?
A força área alemã presenteou-nos com umas instalações excepcionais, uma pista com condições únicas, numa região que oferece um clima quase perfeito para a aviação. Com a seguida dos germânicos a Força Aérea apropriou-se do espaço, utilizando-o para actividades que devem ser interessantíssimas e muito estimulantes mas, que muito pouco ofereceram à cidade. Sublinho-o, porque me parecem inquietantes as recentes noticias do interesse americano nesta base, que poderia oferecer-nos mais de coisa nenhuma.
Estou absolutamente convicto que o Aeroporto Civil de Beja é a resposta para o marasmo económico da nossa cidade e que do seu sucesso depende a sustentabilidade desta região. Mas, o que se pretende com o Aeroporto? Que estranhas razões explicam que a cidade ignore em absoluto o que vai acontecer após a conclusão das obras que, repito, têm uma duvidosa necessidade.
Procurando analisar a situação actual fico na duvida se estamos perante um ligeiro problema ou uma imensa tragédia!
Problema de somenos importância será existir um singelo problema de comunicação, ou seja, a EDAB ter sido pouco hábil para informar a região sobre o que tem para oferecer no próximo ano; se for este o caso é algo que rapidamente se resolve e deixa aberta a janela da esperança.
Trágica, seria outra circunstância, a possibilidade que nos recusamos a acreditar, a saber, que nas vésperas da abertura ainda não estejam resolvidas um conjunto de questões determinantes para o sucesso do Aeroporto.
Desde logo, quem vai gerir o aeroporto civil? O projecto está vocacionado para transporte de mercadorias ou de passageiros? Já existem acordos significativos com empresas interessadas em voar para Beja? Crucial é saber o valor das taxas, se o preço vai ter por base os valores usuais em Portugal ou se vamos apostar numa taxa claramente inferior, para contrariar a interioridade do projecto?
Finalmente e quiçá a mais pertinente das questões, é inferir como será o acordo com os militares: a primazia do espaço aéreo será para a aviação civil ou para a aviação militar? Dito de outra forma, quem tem a ultima palavra sobre as horas e os dias em que os aviões civis podem aterrar no Aeroporto de Beja?
Continuo convicto da importância para a cidade, região e País do Aeroporto de Beja: mas temo que as obras atrasadas sejam o único significativo avanço neste projecto: agora, mais que nunca, é crucial ouvir a EDAB, porque importa acabar com as duvidas e começarem a surgir as respostas!
(Crónica Radio Pax)
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