Sunday, November 25, 2007

Beja e o Ensino Superior

Acordei sobressaltado com a imagem da cidade que conheci na primeira adolescência, embora agora duas décadas mais envelhecida, sem milhares de jovens de diferentes partes do País, que nos ofereceram a sua alegria e colorido, diversidade de culturas e formas de estar, pequenos excessos próprios da idade, embrulhados numa imensa curiosidade em viver; jovens adultos que o destino senta há uma década em mesas frente à minha, que vejo crescer, desenvolverem projectos, lançar propostas, que chegam com medo de uma cidade desconhecida e inóspita ao primeiro olhar, para se tornarem mais bejenses que muitos dos que aqui nasceram e chamam a cidade de sua, para partirem com lágrimas de saudade.
Neste meu sonho aflitivo, no mês de Maio milhares de pais e famílias não enchiam um feliz sábado da cidade, para uma Bênção das Pastas religioso-folclórica, onde se evoca o fim das licenciaturas, perante uma cidade surda, onde ano após anos, grande parte da imprensa e todos os poderes políticos, tentam ignorar um evento onde se festeja a importância e peso dos estudantes nesta cidade.
No meu pesadelo, a cidade estava ciente da impressionante pertinência do Ensino Superior, pelo que a opinião pública (e publicada) não perdia tempo a escalpelizar os momentos em que os estudantes erram, tentando escamotear os seus inúmeros aspectos relevantes, regurgitando o fantasma das praxes, procurando com argumentações cientificas justificar que estes estudantes não aumentam a vida cultural da cidade ou gracejando que sem os estudantes quiçá diminuíssem alguns pequenos actos de vandalismo.
No meu sono atormentado pela trovoada que raiava no horizonte, a sociedade civil bejense – porventura, outra ilusão de uma noite mal dormida – esquecia divergências mesquinhas e unia-se em torno de projectos importantes para a região, incapaz de assobiar para o lado quando assistisse ao lento agonizar de uma Universidade que, goste-se mais ou menos, todos devemos reconhecer a imensa importância que teve para a região.
Nas divagações sonâmbulas deste que vos escreve, era despiciendo justificar a importância do Instituto Politécnico de Beja com a tirania da matemática, um verdadeiro fascismo dos números, confrontando o leitor com o facto de o IPB ter actualmente aproximadamente 3000 alunos e mais de quatro centenas de funcionários, docentes e não docentes, tornando-se na grandeza da estatística, a maior empresa da região. Neste meu sonho, era desnecessário firmar que se cada aluno em média despende cerca de 350 Euros mensais, a economia real e paralela de uma pequena cidade como Beja, estão dependentes do sucesso desta cada vez mais complexa empreitada.
Não ignoro que nem tudo está feito, que se podia fazer mais e melhor. Não sustento que pessoas ou Instituições devam estar acima de todas as críticas, não me coibindo eu próprio de as fazer, quando as entendo pertinentes! Se é tremendamente saudável desejarmos sempre um pouco mais, importa de quando em quando, meditar sobre o que temos, recordar o longo e complexo percurso que nos guiou até aos dias de hoje e desenhar num rosto o sorriso tranquilo de quem acorda com a certeza que teve apenas um sonho mau! Mas com a profunda convicção, que os pesadelos de hoje podem ser a realidade de amanhã, que mais difícil que conseguir Ensino Superior em Beja é conseguir mantê-lo, sendo uma batalha de todos lutar para que esta realidade seja eterna…

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1 comment:

Anonymous said...

Aqui está uma reflexão que merecia ser aprofundada...
Beja em geral precisa de um lobby "por Beja", para intervir eficazmente nesta e em tantas outras áreas...
Mas para haver lobby, é sem dúvida necessário haver sentido de identidade, de pertença, bairrismo no bom sentido do termo, sentirmos que isto é nosso, e que NÓS é que temos de levar "por diante" este ideal de BEJA.

Parece-me ser essa a principal dificuldade, alguém, algo, um movimento, que despreze a ideia pré-concebida de sociedade civil e consiga mobilizar as pessoas, para além das barreiras internas mas estanques deste pequeno cosmos de nome Beja!
Até a mim me parece utópico...